Gastar muito tempo na internet pode ter um custo alto na sua vida. Mas como retomar o foco?

Se você procurar por foco no Wikipedia, você vai encontrar que: “Foco em geral é tomado como o centro de e é nessa asserção que é tomada como o ponto onde se concentram os raios luminosos que passam por uma superfície transparente. Alternativamente é o ponto de convergência ou donde saem emanações.”
Acho que nunca precisamos tanto de foco e concentração quanto agora para manter uma certa serenidade e sem dúvida, a sanidade.
Estamos vivendo a revolução da informação digital que precede a revolução da TV. Aprendemos a nos comunicar por gestos, então por sons, palavras, palavra escrita, palavra radiodifundida, palavra televisada e agora palavra digitalizada (e twittada). Começamos com conversas ao redor da fogueira, passamos a hieróglifos em pedras e cerâmicas, papiros enrolados, papéis grudados e impressos…opa, aqui é onde começa a uma revolução própria: a comunicação em massa.
Quanto a prensa começou a funcionar, ela foi usada para fins políticos. Em geral, um dono e sua família rodavam panfletos partidários com mensagens de opinião de seu grupo. Até aquele momento, a escrita era rara e usada geralmente para impostos (claro!), contabilidade e negócios e textos sagrados religiosos, como a Bíblia, Alcorão e livros de rezas de todos os tipos. Um livro era um luxo que em moeda atual custaria por volta de R$ 40.000,00.
O uso das prensas para a política trazia a mensagem de grupos que procuravam promover suas idéias de mudança e até esse momento, era uma tecnologia extremamente rara e possuída por poucos. A mensagem era poderosa pois era massificada e não havia outras muitas mensagens competindo. Havia uma economia de escassez em vigor no “mercado” de informações. A religião, outra poderosa fonte de mensagens, nunca foi uma grande produtora de novidades mas uma repetidora de mantras, o que ajudava a mensagem política a encontrar rivais apenas em outras mensagens políticas do partido concorrente que também precisaria de uma “prensa” a todo vapor e de mensagens cada vez mais persuasivas para conquistar seguidores.

Até surgirem os jornais, que nada mais eram um apanhado de notícias vendidos individualmente pelas ruas da cidade. O que importava era a chamada “headline”, o título. Em breve, os jornais começaram a vender assinaturas mudando seu modelo de venda para mensalidades o que os tornou fontes de informação mais seguras e menos manipuladoras, em relação ao formato que o precedia que baseava suas vendas no sensacionalismo de seus títulos.
Logo mais, apareceriam os rádios, os jingles publicitários, o horário do Brasil concorrendo com o jornal. Isso ampliava o “share of mind” que as mídias tinham na vida cotidiana, em outras palavras, ampliava a quantidade de informação que recebíamos de veículos de massa em detrimento dos veículos tradicionais que eram as pregações religiosas nas igrejas e templos e de pais e avós na famílias.
Ao invés de termos as informações vindas de gente “conhecida”, de nossa família e líderes de comunidade, passamos mais e mais a receber informação de veículos externos massificados e com mensagens pouco personalizadas.
A comunicação de massa e seus veículos além criaram as condições para manipulações pouco éticas porém por si, subverteram o foco das vidas de quem foi impactado criando um foco “extra-comunal e extra-familiar”. Se antes tínhamos um foco nas questões imediatas de nossa família e comunidade e também religioso, espiritual da mesma, passamos a ser gradativamente bombardeados por mensagens de caráter governamental amplo e de interesse das corporações que surgiram nesta mesma época.
Com poder financeiro e usando tecnologias mais e mais eficientes, o rádio e a TV trouxeram para dentro de casa uma nova forma de distração e um novo foco, e a possibilidade de manipulação imprecedente.
A genesis veio dos panfletos políticos mas a consumação desse processo que levou alguns séculos, veio com o rádio e a TV. Recebemos notícias da primeira e segunda guerra mundial pelo rádio mas a Guerra do Vietnã já veio através TV.
E com a TV em casa, o jornal chegando toda a manhã, já fazíamos parte de um mundo de massa onde passamos a receber constantemente mensagens manipuladas para chamar nossa atenção constantemente.
A mente do ser humano “moderno” passou a estar cada vez mais atenta às informações imediatas vindas de agentes externos e desconhecidos, as corporações das notícias, as News Corporations internacionais que decidiam o que deveria ou não ser comunicado e em algum nível, o que devíamos ou não saber e pensar.
A internet ficou popular com banda larga por volta dos anos 2000, ou seja, há 12 anos estamos em um processo de aceleração do que havia sido iniciado com os rádios e a TV: streaming real-time de notícias em nossas vidas.
Esse rio de notícias em tempo real que é visto no Twitter e nos seu feed de notícias do Facebook é algo que não conseguimos nos conter a olhar. A informação é como comida: se temos acesso é difícil não se fartar.
A força e a quantidade de informações que corre nas redes sociais é enorme. Um dilúvio de informações que nos chamam a atenção e ativa nosso medo de perder algo, o chamado FEAR OF MISSING OUT (FOMO), o medo de ser deixado para trás, de não estar a par do que se passa ao redor.
Esse medo é o grande motivador de nossa inclinação ao vício de conexão às mídias sociais e a internet. Assim, estamos de certa forma programados ao vício da internet a menos que consigamos encontrar formas de minimizar nossa compulsão a atualização de novidades e consigamos alguma forma de filtragem inteligente das notícias vindas pela internet e sem esquecer do jornal e revistas e TV que ainda andam por aí a nos assustar.
Assim podemos voltar a pensar sobre FOCO
“Foco em geral é tomado como o centro de e é nessa asserção que é tomada como o ponto onde se concentram os raios luminosos que passam por uma superfície transparente. Alternativamente é o ponto de convergência ou donde saem emanações.”
Qual o seu FOCO? O que mais lhe interessa saber e fazer na sua vida e nos negócios? Qual o centro de convergência de seus interesses e como fazer para se manter atrelado, acorrentado a ele?

No poema épico Odisséia de Homero, Ulisses tem que se acorrentar ao mastro para continuar sua viagem a Ítaca sem ser distraído pelas sereias chamadas Sirenes. O mesmo aconteceu com Buda que sabendo dos riscos da distração não deu ouvido a sua libído quando lindas dançarinas, as filhas do Mal (Mara), foram enviadas para subjugá-lo.
A verdade e a mentira se multiplicam infinitamente na internet. No centro está a consciência do autor. É a consciência do que se fazer com a verdade e a falsidade que determinam se o autor está lutando contra o Mal (Mara) como Buda lutou ou se ele se tornou uma das filhas de Mara.
Nossos heróicos Ulisses, que se amarrou ao mastro e, Buda, que iluminou-se com técnicas de meditação, vemos possibilidades de salvação com táticas diferentes de se agir em frente ao desafio de se encontrar a verdade.
Não somos Ulisses nem Buda. Será que somos capazes de manter nossa jornada sendo distraídos diariamente por informação irrelevante como o mais novo conector do iPhone 5 ou uma foto do que seu amigo está comendo no jantar?

O tempo continua sendo o nosso mais valioso ativo.
Como manter o foco nas coisas que mais interessam na vida? Como vivenciar a vida sem distrações? O que realmente importa? Essas perguntas não são a mais nova polêmica de última hora no seu Facebook. Elas estão aí desde sempre.
Embora precisemos das informações e não queremos ficar por fora das últimas novidades, precisamos ter maturidade e disciplina para consumi-las, e, abstinência delas em muitas ocasiões.
O desafio é saber discernir informação boa de ruim e equilibrar momentos de aprendizado e momentos de reflexão para saber com nossa própria razão, no que acreditar e no que é definitivamente bom para nossas vidas.
Quanto mais imersos no mundo da informação, mais necessitamos de momentos de silêncio e meditação.
O caminho, como dizia Buda, é o do meio.
PS: Escrevi um outro post interessante sobre o assunto há algumas semanas atrás: A disciplina do menos que vale a pena.